Peter Hunt:
'Um bom livro infantil é feito de respeito'
Moral da história:
Livro para criança
não tem que ter final feliz.
Precisa, sim, estar cheio de fantasia,
ser inovador, diferente, instigante, subversivo.
Quem lista os segredos da boa narrativa é um dos
maiores estudiosos mundiais da literatura infantil,
o inglês Peter Hunt, fundador e professor da cadeira
na Cardiff University, na Grã-Bretanha.
Pai de quatro filhas,
todas ótimas leitoras, garante,
Hunt diz que livro infantil não pode
ser igual à comida fast-food,
"que satisfaz de imediato mas está longe
de ser a opção mais saudável",
durante o seminário Crítica, Teoria
e Literatura Infantil no Brasil e no Mundo
- projeto da Cátedra Unesco de Leitura da universidade -
Hunt aproveita para logo depois autografar
“Crítica, teoria e literatura infantil” (Ed. Cosac Naify).
O livro, lançado em 1991, "numa época em
que se lutava arduamente para provar
a importância de publicações para crianças",
focava nesta primeira edição na academia.
Agora, revisado, atualizado e ampliado,
chega com o objetivo
de atingir um público maior e bem mais eclético.
Nesta versão há um novo capítulo -
sobre livros para crianças e mídias sociais -,
um apêndice - em que o autor refina
a definição de literatura infantil
a partir de opiniões suas que
mudaram ao longo destes 20 anos
- e várias atualizações, com exemplos mais universais,
e não tão britânicos, dos livros citados.
Nesta obra, Hunt,
respodeu e sai em defesa de um
maior apuro e mais
conhecimento sobre a teoria e
a crítica de publicações para crianças.
E dá um conselho a todos que
querem formar bons leitores:
"Um bom livro infantil é um livro
que faz todos, adultos e crianças, pensarem.
Mas o mais importante é que as
crianças estejam sempre em contato com as obras.
Quanto mais livros as crianças lerem, maior será
a capacidade delas de escolha e de comparação".
O senhor acha que os livros infantis
O senhor acha que os livros infantis
têm características muito peculiares
que os distinguem de qualquer
outro tipo de literatura que é feito?
O que o senhor acha de moral da história,
do politicamente correto, da mensagem
que se tenta passar para a criança?
É perigoso generalizar sobre "livros para crianças"
É perigoso generalizar sobre "livros para crianças"
- provavelmente nunca generalizaríamos
sobre (todos) os livros para adultos.
Mas uma característica que todos
os livros infantis compartilham é
a ideia da "criança" ou da "infância".
Essa pode ser a ideia do editor sobre
o que é ser criança, da cultura
de uma sociedade, ou a ideia do autor
sobre uma criança real, talvez
um ideal da infância, uma memória
de criança ou uma memória de
quando se foi criança (é bem complexo!).
Seja lá o que for essa ideia, isso
vai interferir em como será o livro.
Alguns autores vão defender que
crianças precisam de leveza, novidade
e trabalhos experimentais; outros vão
achar que crianças são 'simples' e
então precisam de livros 'simples';
alguns autores acham que crianças
precisam de desafios; há os que
pensam que crianças vão precisar
ter livros para se acostumarem a eles
- para ser como qualquer outra pessoa.
Sobre a "moral da história", é verdade:
muitos livros infantis têm mesmo uma
moral positiva ou um final feliz; e são
politicamente corretos, porque seus
autores sabem que estão (na maioria das vezes)
escrevendo para um leitor menos experiente.
Por isso acham que têm a
responsabilidade de mostrar
um bom comportamento ou uma
mensagem boa. O problema que
isso acarreta, claro, é que vai
depender do que o autor vai acreditar
como sendo politicamente correto.
Livros infantis precisam ser didáticos?
Porque há um desequilíbrio de
Livros infantis precisam ser didáticos?
Porque há um desequilíbrio de
poder nos livros infantis - em que o adulto
autor está numa posição em que pode,
efetivamente, influenciar o leitor -,
é inevitável que autores adultos
tentem expressar algum ponto de vista,
queiram passar alguma mensagem.
(TODOS os livros e TODOS os livros
infantis têm alguma posição ideológica
Fonte: ( O Globo - 2010)